Dados Acadêmicos

  • Autor

    Almiro Alve Junior

  • Orientador

    Alair Ferreira de Freitas

  • Universidade

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

  • Tipo de Curso

    Mestrado

  • Tipo

    Dissertação

  • Ano de Produção

    2018

Resumo do Projeto

Introdução

A ideia de ter uma cooperativa de crédito que focasse, especificamente, nas necessidades financeiras da agricultura familiar, seguindo o exemplo do Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), constituído em 1995, espalhou-se pelo país. Em Minas Gerais, a partir do ano 2006, foram organizados dois sistemas de cooperativismo de crédito solidário: (i) o Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Ecosol), vinculado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF); e (ii) o Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito da Agricultura Familiar (Creditag), vinculado à Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG). Esses sistemas cooperativos implementados em Minas Gerais, além de se espelharem na iniciativa da Cresol, compartilham trajetórias de constituição semelhantes, especificamente com a atuação de movimentos sociais, sindicais e de entidades religiosas ligadas à defesa da terra (FREITAS, 2011; MARTINS, 2016). Na trajetória dessas organizações, uma série de desafios foi vivenciada para se manter operando e com foco em sua missão e valores institucionais, assim como relatado por Bitencourt (2001), tais como: (i) necessidade de articulação e luta conjunta com outras organizações políticas e representativas; (ii) busca de recursos a baixo custo; (iii) formação e capacitação de seu quadro diretivo e associativo; (iv) melhoria dos serviços e controles internos; e (v) transformação dos recursos financeiros em projetos de desenvolvimento sustentáveis. Além de enfrentar os desafios elencados por Bittencourt, o cooperativismo de crédito precisou se organizar para atender às normas e às regulamentações que tratam do seu funcionamento. Somente entre os anos 1995 e 2008, foram publicados 24 normativos (por Resolução; Carta-circular; Comunicados; Circular) pelos órgãos reguladores do SFN, que em alguma instância alteravam as regras para o funcionamento e organização desses sistemas cooperativos, ampliando a padronização das rotinas administrativas (PINHEIRO, 2008). Nesse contexto, os sistemas Ecosol e Creditag, atuantes em Minas Gerais, a partir de 2009, iniciaram um movimento de aproximação com o Sistema Cresol, que, em um primeiro momento ocorreu no campo da cooperação técnica entre essas instituições. Foi formalizado um convênio entre as instituições, no qual a Cresol disponibilizou um analista técnico para reorganizar os processos gerenciais e administrativos das cooperativas, e capacitá-las a operar uma série de outros serviços financeiros (FREITAS e FREITAS, 2013). As motivações para essa aproximação foram distintas para a Ecosol e a Creditag. A Creditag, por não se encontrar vinculada a uma Central de Serviços, acabou sofrendo pressões externas do Banco Central do Brasil (BACEN) e de associações ligadas à agricultura familiar para que essa vinculação ocorresse (FREITAS, 2011). Já a Ecosol, apesar de estar ligada a uma Central, sofreu com instabilidade organizacional devido a sua fragilidade, pois lhe faltava efetividade nas articulações e negociações com outras organizações, especialmente com os agentes financeiros, além de sentir-se pressionada pela reorganização interna promovida pela Creditag e pela perspectiva de expansão no raio de atuação. A convergência dessas situações, vinculadas ao interesse do Sistema Cresol de se expandir para outras regiões do Brasil, levou a uma conformação do ambiente que acabou por alterar significativamente as configurações do campo organizacional do cooperativismo de crédito solidário em Minas Gerais. A incorporação da Ecosol e da Creditag ao Sistema Cresol efetivou-se no ano de 2012, inicialmente pela Creditag e, em um segundo momento, pelas cooperativas Ecosol. Ainda devemos considerar a observação feita por Martins (2016) de que é imperativo observar o movimento do SFN em direção a um processo de unificação dos sistemas de cooperativas de crédito. Assim, podemos interpretar o processo de incorporação a um Sistema já consolidado, como o Sistema Cresol, pelas cooperativas pesquisadas, como uma estratégia para se manter em operação, e também de legitimação neste campo de atuação. Este processo de aproximação e incorporação das cooperativas de crédito solidário mineiras teve repercussões nos processos de governança interna das cooperativas, em suas relações externas e imagem. Processos e métodos gerenciais e administrativos foram se homogeneizando, instaurando-se assim um padrão de atuação das cooperativas mineiras, agora integradas em um mesmo sistema, independentemente de a qual federação sindical ou partido político se vinculam. A forma como este processo influenciou a relação de forças internas nas cooperativas mineiras foi tema de estudo de Martins (2016), no qual a autora busca entender, mediante estudo de caso da Cooperativa Cresol Tombos, a inserção e a influência de novas formas institucionais nas interações de seus associados. O estudo traz importantes questionamentos e evidências acerca desse processo de homogeneização e descreve as estratégias utilizadas pelos cooperados para superar e/ou se adaptar à nova realidade, entretanto não faz parte da análise do estudo o entendimento do campo organizacional do cooperativismo de crédito solidário a partir dessas mudanças. Portanto, não há análises anteriores sobre a configuração desse campo, sobre como as organizações interagem entre si, o papel que assumem nas finanças locais e para a agricultura familiar. Nesse sentido, argumenta-se aqui que a busca por entender as motivações e processos que levaram a consolidação de um único sistema cooperativo solidário em Minas Gerais, e como ele está atualmente configurado, mostra-se um caminho promissor para ampliar o conhecimento acerca dessas organizações e estruturar um equipamento de análise institucional que possa contribuir para o entendimento do campo organizacional e da atuação destas cooperativas. O recorte analítico é relevante na medida em que avança sobre a importância de pesquisar os campos organizacionais do cooperativismo, possibilitando análises mais estruturadas sobre como essas organizações interagem e são condicionadas. Os estudos do cooperativismo no Brasil poderão se enriquecer com análises teóricas como a proposta, para interpretar as modificações das organizações sob uma perspectiva sociológica, que desvelem elementos relacionais, morais e simbólicos que influenciam a trajetória das cooperativas.

Downloads

Downloads